Aethos Hotel
Ericeira, Portugal
Cliente
Aethos Hotels
Estado
Construído
Data de projeto
2019-2020
Data de construção
2020-2022
Área de construção
3.745m2
Paisagista
Topiaris
Design de interiores
Astet Studio
Aethos Ericeira é um boutique hotel localizado perto da praia da Calada, na Ericeira, um destino turístico em crescimento, conhecido pelas suas extraordinárias ondas e a cultura surf que recebe anualmente. Outrora um hotel completo que entretanto foi abandonado, e já com uma aplicação de uma pousada tradicional existente, a localização única à beira de uma falésia e as vistas envolventes deslumbrantes, são algumas das limitações que encontrámos ao nível da intervenção para que pudéssemos preservar o ambiente delicado e cumprir com os regulamentos de construção.
O desafio que o projeto apresentava era claro: como idealizar um edifício tão complexo com o mínimo de intervenção possível?
Numa situação como esta, em que nos deparamos com um edifício existente que nos pedem para reinterpretar, começámos por observar que existe, o que resulta bem, e que problemas resolver. Foi o pensamento critico e metódico que nos permitiu encontrar uma forma criativa de manter os traços tradicionais do edifício, oferecendo-lhe uma nova vida e um recomeço.
Neste caso, o hotel original ficou um pouco perdido nas várias ampliações sofridas, com linguagens arquitetónicas diferentes e uma mistura confusa entre elementos tradicionais e modernos.
Sentimos que a solução seria estabelecer uma distinção clara entre o antigo e o novo e restaurar o edifício existente para algo mais próximo do seu estado original.
Dando às ampliações, e ao novo edifício, um caráter distinto, e respeitando a coerência estética do todo.
Com isto em mente, começámos por identificar partes do edifício que mantinham a sua identidade original, ao contrário das componentes contemporâneas. Por exemplos, nas áreas de construção mais tradicional, era fundamental manter o carácter original do edifício.
Neste sentido, foram removidos vários elementos decorativos mais recentes para ampliar o volume original, com as suas paredes volumosas e telhado inclinado que identificámos como sendo as características mais importantes a preservar.
Procurámos preservar e realçar certos elementos originais como as paredes brancas e telhas características da zona. No obstante, substituímos a pintura branca por uma betonilha térmica esbranquiçada mais suave, tanto por motivos técnicos como estéticos, realçando a sensação de peso característica deste tipo de construção tradicional.
Um detalhe importante que quisemos manter foram os arcos profundos, localizados no lobby, que acabaram por tornar-se numa característica fulcral do espaço, realçando a sua sólida construção tradicional. Aqui, alguns detalhes excessivos foram removidos, e o design adaptado para melhor se adequar ao novo lobby de pé-direito duplo, maximizando a vista para o mar e sem sacrificar a sensação de massa que lhes é característico.
Outro momento importante foi a definição do conceito de aberturas nestas áreas. Aqui, o novo programa previa janelas maiores para permitir a entrada de luz e gozar das vistas extraordinárias, em vez de aberturas tradicionais pequenas, especialmente nas áreas sociais e de restauração. Mantendo o nosso objetivo de distinção entre o antigo e o novo, demos a estas janelas uma identidade visual e materialidade contemporâneas, desenhando ‘caixas’ metálicas que sobressaem das fachadas, e que se tornaram numa das características determinantes do edifício.
Para as áreas de construção recentes, o desafio foi alcançar uma aparência contemporânea que integrasse o edifício existente e a paisagem envolvente com uma intervenção mínima.
Conseguimos este resultado através de várias demolições (remoção de alguns telhados inclinados, abertura de varandas, etc.) e uma forte materialidade cobrindo as fachadas, reinterpretando-as em formas e volumes mais evidentes.
A madeira foi o material de escolha para esta intervenção que nesta zona amadurece de forma rápida e delicada, captando os tons do ambiente envolvente. As peças finais foram elementos metálicos, em tom castanho-escuro mate, oferecendo um ligeiro contraste com a madeira e as paredes brancas, tanto na cor como na leveza da sua construção, assegurando a sua identidade como parte da nova intervenção.
A organização global do hotel manteve-se em grande parte igual porque o programa apresentado era muito semelhante ao do seu uso original. O edifício original, e a primeira ampliação, formam uma ala de dois pisos, com áreas comuns no rés-do-chão, quartos no primeiro andar e uma cave que acomoda as áreas de serviço. Estes foram complementados por uma ala de três pisos totalmente reservada aos quartos, bem como um edifício bar separado junto à piscina que adaptámos num ginásio.
Embora o edifício existente estivesse perto de ser utilizado como um hotel no momento da sua conclusão, quase todos os quartos tiveram de ser ligeiramente alterados para corresponder aos atuais padrões de serviço pretendido, e as áreas de circulação ajustadas e aperfeiçoadas depois de várias ampliações as terem deixado desordenadas.
Uma das maiores alterações ao nível de layout foi no bar, restaurante e zonas sociais, onde se procurou encontrar um equilíbrio entre o estilo de construção tradicional 'mais pesado' do edifício existente com um estilo open-plan, que o programa previa, e simultaneamente melhorando significativamente as vistas e ligação com o exterior.
O restaurante, em particular, privilegia da localização, com uma ampla área de estar ao ar livre e grandes janelas que enquadram a extraordinária paisagem marítima.
Essas atualizações nos layouts de interiores foram desenvolvidas em colaboração com o Astet Studio, de Barcelona, responsável pelo Design de Interiores e FF&E do Hotel.
Uma das alterações mais dramáticas do espaço exterior foi a demolição na quase totalidade da cave da área da piscina, que continha uma sala ‘multipurpose’ pouco utilizada, e foi posteriormente adaptada a um spa.
Embora a área total construída tenha reduzido, a demolição permitiu uma ligação mais aberta entre a piscina, que anteriormente estava cercada por altos muros, e o hotel, abrindo caminho para um novo planeamento da área envolvente da piscina, num ambiente mais natural e aberto a interligações entre os pisos. Esta alteração criou simultaneamente um jardim interno que permitiu a criação de quartos adicionais, e do spa, em áreas antes desprovidas de luz natural e vista para o exterior.
A pormenorização deste espaço, assim como de todas as áreas do exterior, foi coordenada de perto com a Topiaris, que desenvolveu a Arquitetura Paisagista do Hotel, baseada nos princípios de ligação e integração entre edifício e a o espaço envolvente que influenciaram todo o processo de projeto.